Quando nós pensamos no processo de alimentação, é preciso avaliá-lo de diferentes ângulos – incluindo suas bases neuroquímicas. Você já estudou sobre isso?
São dois os principais sistemas que interagem sobre a regulação alimentar e sobre os fatores que influenciam a ingestão alimentar:
- Sistema homeostático, que compreende reguladores hormonais dos níveis de fome, saciedade e adiposidade, como leptina, grelina e insulina. Estes reguladores atuam nos circuitos hipotalâmicos e do tronco encefálico para estimular ou inibir a alimentação a fim de manter os níveis adequados de balanço energético.
- Sistema hedônico, que influência a ingestão de alimentos independentemente do estado de energia. Esses mecanismos são menos compreendidos e o consumo excessivo de alimentos palatáveis pode desencadear respostas neuroadaptativas nos circuitos de recompensa do cérebro.
O cérebro desempenha um papel essencial nesses sistemas. As três principais ações fisiológicas são a fome/saciedade, o consumo de energia e a regulação dos hormônios envolvidos no armazenamento das reservas energéticas.
É importante lembrar que a escolha alimentar é um processo dinâmico, no qual muito fatores fisiológicos e não fisiológicos (genética, ambiente, econômico, sociocultural) influenciam a tomada de decisões. O equilibro entre os aspectos citados é fundamental para definir a qualidade da ingestão alimentar.
Gostei muito da leitura do artigo intitulado “Blaming the Brain for Obesity: Integration of Hedonic and Homeostatic Mechanisms” (referência abaixo), onde os autores descrevem como o cérebro desempenha um papel fundamental no controle de ingestão e gasto de energia. Para que esse processo ocorra, não apenas os dois sistemas supracitados são importantes, mas há todo um envolvimento da cognição, aspectos sensoriais, recompensas e funções executivas. O cérebro usa informações nutricionais de fora e de dentro do corpo antes, durante e após o comportamento de ingestão.
Durante a fase de iniciação, a atenção pode ser desviada para o comportamento de ingestão por causa da fome ou da oportunidade de consumir um alimento altamente recompensador na ausência de fome metabólica.
Na fase de aquisição, estímulos incondicionados e condicionados de alimentos e estímulos alimentares interagem através dos sentidos externos com o cérebro cognitivo, emocional e executivo.
Durante a fase de consumo, os sinais interoceptivos do paladar e do trato gastrointestinal que chegam ao cérebro “metabólico” guiam os processos relativamente estereotipados de digestão, transporte e absorção. Os reflexos antecipatórios moldados pela experiência anterior ajudam, assim, a manter os parâmetros regulados dentro dos limites ideais.
Por fim, durante a fase pós-ingestão ou metabólica, sinais do intestino e órgãos que podem armazenar e/ou metabolizar energia, como tecido adiposo e fígado, informam ao cérebro sobre as consequências metabólicas da refeição, proporcionando recompensa pela satisfação e gerando memória episódica representativa de toda a refeição para referência futura. Ao integrar informações externas e internas, o cérebro pode regular o peso corporal a longo prazo de forma flexível e adaptativa, para acomodar circunstâncias especiais (alostase).
Comer não é uma ação simples, por isso precisamos sempre estar avaliando todos os fatores que podem influenciar nessas decisões.
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When we think about the feeding process, it is necessary to evaluate it from different perspectives – including its neurochemical basis. Have you ever studied about this?
There are two main systems that interact on food regulation and the factors that influence food intake:
- Homeostatic system, which comprises hormonal regulators of hunger, satiety and adiposity levels, such as leptin, ghrelin and insulin, which act on hypothalamic and brainstem circuits to stimulate or inhibit feeding in order to maintain adequate levels of energy balance.
- Hedonic system, which influences food intake regardless of energy state. These mechanisms are less understood, and excessive consumption of palatable foods can trigger neuroadaptive responses in the brain's reward circuits.
The brain plays an essential role in these systems. The three main physiological actions are hunger/satiety, energy consumption and the regulation of hormones involved in the storage of energy reserves.
It is important to remember that food choice is a dynamic process in which many physiological and non-physiological factors (genetics, environment, economic, sociocultural) influence decision making. The balance between the aforementioned aspects is essential to define the quality of food intake.
I really enjoyed reading the article entitled “Blaming the Brain for Obesity: Integration of Hedonic and Homeostatic Mechanisms” (reference below), where the authors describe how the brain plays a key role in controlling energy intake and expenditure. For this whole process to take place, not only are the two aforementioned systems important, but there is a whole involvement of cognition, sensory aspects, rewards and executive functions. The brain uses nutritional information from outside and inside the body before, during and after the eating behavior.
During the initiation phase, attention may be diverted to eating behavior because of hunger or the opportunity to consume a highly rewarding food in the absence of metabolic hunger.
The acquisition phase, unconditioned and conditioned food stimuli and food stimuli interact through the external senses with the cognitive, emotional, and executive brain.
During the consumption phase, interoceptive signals from the taste and the gastrointestinal tract that reach the 'metabolic' brain guide the relatively stereotyped processes of digestion, transport, and absorption. Anticipatory reflexes shaped by previous experience thus help to keep the parameters regulated within ideal limits.
Finally, during the post-ingestion or metabolic phase, signals from the gut and organs that can store and/or metabolize energy, such as adipose tissue and liver, inform the brain about the metabolic consequences of the meal, providing reward for satisfaction and generating episodic memory representations of the entire meal for future reference. By integrating external and internal information, the brain can flexibly and adaptively regulate long-term body weight to accommodate special circumstances (allostasis).
Eating is not a simple action, so we always need to be evaluating all the factors that can influence these decisions.
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Refs:
Berthoud, H. R., Münzberg, H., & Morrison, C. D. (2017). Blaming the Brain for Obesity: Integration of Hedonic and Homeostatic Mechanisms. Gastroenterology, 152(7), 1728–1738. https://doi.org/10.1053/j.gastro.2016.12.050
Lutter, M., & Nestler, E. J. (2009). Homeostatic and hedonic signals interact in the regulation of food intake. The Journal of nutrition, 139(3), 629–632. https://doi.org/10.3945/jn.108.097618
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